30 julho, 2011

EM PEDAÇOS


Destroçado
ando catando os cacos
da última queda


nada que me prive de pular
nada que me impeça de sonhar


se viveres até lá...


verás
a linda colcha de retalhos


que, pelas mãos da dor
que, pelos seios do amor


... me transformei.


- cuidado, não pise em meus cacos!



C.H.Gonçalves 

As malas - de novo!!




Entre o roer ansioso de unhas e um acorde precioso de mais uma linda e nova melodia, talvez se lembre do café amargo e achocolatado que tem o poder do despertar... talvez lhe venha lembranças carregadas do ódio que às vezes lhe invade, ou talvez chores enternurado por tropeçares em algum bilhetinho, uma capa de óculos, em algum pedaço que restou da fúria que a tudo destroça. Talvez seja sóbrio pra admitir que não fizestes a parte que lhe coube, que lhe faltou a coragem de esvaziar os baús, lançar mão dos guardados que trazem vícios e recalques... desocupando assim lugar para amor que renova, para paz que pode vasculhar e fazer tudo novo, de novo!! Preferes se odiar pelo que poderia ter vindo - e já foi...

Lembro do perfume do Saara, deserto de humores e carinhos, das águas das mais diversas fontes... músicas que pareciam ser feitas para aquele momento, gostos que jamais se repetirão, sensações únicas... Reminiscências, a marca do sabonete, o queijo caro, umas rolhas de vinho, cardápios improváveis e únicos em sabores!! Tanta discórdia, que sempre procuramos atribuir aos outros... ou não! Muitas das brigas já nem sabemos os motivos. Mas lembro de cada promessa de estarmos juntos, da aliança que gritava pela eternidade. Amor, paixão, ameaça - dor!! O que poderia ter sido....e  não será mais!

Do sonho nada restou... um dia talvez saibamos o que ficou. Olhares? temores e tremores? retratos em algum hd...esquecimentos que ainda doem, reenlaces e distanciamentos, incoerências e vergonhas, falta de razão e muita emoção, 

Se vão os rascunhos, e fica essa realidade, dura, nua, crua!!

...Êi moço, me ajuda a carregar essas malas?? quanto tempo daqui ao aeroporto?? O senhor se lembra de onde eu vim? podes me ajudar a reencontrar a minha história?? Vira o espelho pra cá, preciso de um batom...


11 julho, 2011

VENTANIA

‎"O que não faz o amor?
Faz, refaz,
talha, retalha
e cozinha em fogo brando
e recostura a casa
e desamassa a roupa
e atiça o fogão
e inventa coisas que a razão
jamais inventaria...

E o que faz o coração?

Faz ventania!"
(Joyce- Hermínio Bello de Carvalho)
Do CD TIMONEIRO

Oscar Wilde

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.