20 novembro, 2010


“Pa­ra apal­par as in­ti­mi­da­des do mun­do é pre­ci­so sa­ber:
a) Que o es­plen­dor da ma­nhã não se abre com fa­ca;
b) O mo­do co­mo as vio­le­tas pre­pa­ram o dia pa­ra mor­rer;
 c) Por que é que as bor­bo­le­tas de tar­jas ver­me­lhas têm de­vo­ção por tú­mu­los;
d) Se o ho­mem que to­ca de tar­de sua exis­tên­cia num fa­go­te tem sal­va­ção;
e) Que um rio que flui en­tre 2 ja­cin­tos car­re­ga mais ter­nu­ra que um rio que flui en­tre 2 la­gar­tos;
f) Co­mo pe­gar na voz de um pei­xe;
g) Qual o la­do da noi­te que ume­de­ce pri­mei­ro. Etc. Etc. Etc.”

Poeta: Manoel de Barros - MT
Fotógrafo: Paulo Santos -  PA

Menino do mato

Eu queria fazer parte das árvores
como ospássaros fazem.
Eu queria fazer parte do orvalho como as
pedras fazem.
Eu só não queria significar.
Porque significar limita a imaginação.
E com pouca imaginação eu não poderia
fazer parte de uma árvore.
Como os pássaros fazem.
Então a razão me falou: o homem não
pode fazer parte do orvalho como as pedras
fazem.
Porque o homem não se transfigura senão
pelas palavras.
E isso era mesmo.
Manoel de Barros